Este blog reúne algumas poucas lembranças do meu tempo como estudante e como professor de Artes Visuais.
Samir Lucas
sábado, 7 de agosto de 2010
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
domingo, 21 de fevereiro de 2010
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Homem que queria mudar o mundo
Havia um homem que queria mudar o mundo e que vivia numa cidade que evitava tocar o mar. Uma vez, o homem que queria mudar o mundo viajou pra outra cidade que em outro país também evitava tocar o mar.
A cidade em que vivia o homem que queria mudar o mundo tinha duas escolas de arte e o mesmo acontecia na cidade para onde um dia o homem viajou. Aí conheceu artistas dessa cidade que não era a sua. Um deles se chamava Samir Lucas.
O homem que teve a oportunidade de conhecer Samir Lucas havia estudado arte numa das duas escolas de sua cidade, ainda que não tivesse escolhido essa escola; apenas aconteceu que o homem que queria mudar o mundo não sabia que existiam duas escolas de arte e ingressou na mesma em que estudava uma amiga, que por outro lado era quem o havia convencido a estudar arte. Pouco antes de conhecer esta amiga que o havia convencido a estudar arte o homem que queria mudar o mundo não sabia que existiam escolas de arte na cidade em que vivia.
Já dentro da escola de arte, o homem que queria mudar o mundo realizou apaixonadamente suas primeiras pinturas e desenhos e gravuras e esculturas, e imerso nesse trabalho o homem percebeu que desejava se contagiar do trabalho dos seus companheiros. E junto com seus companheiros o homem que queria mudar o mundo descobriu que existiam dois tipos de estudantes de arte em sua escola. Por um lado estavam os pintores e por outro os que, como ele, queriam mudar o mundo. Então, só quando o desejo de mudar o mundo entrava de férias, o homem que queria se contagiar de seus companheiros encontrava tempo para pintar, e o fazia de novo apaixonadamente. Com certeza alguém inteligente inventou essas férias, costumava pensar o homem.
Mudar o mundo tinha regras muito claras naqueles dias, regras que com o tempo davam ao homem que queria mudar o mundo preguiça de lembrar. Talvez as regras são claras porque as colocamos ao sol, também costumava pensar o homem. Mas com o tempo e como era de esperar, o homem e seus companheiros dos quais desejava se contagiar descobriram que era possível e mais fácil e até mais necessário pintar enquanto mudavam o mundo. Assim o homem e seus companheiros também perceberam que eram mudados pelo mundo. Mas o mais importante que descobriram foi que para fazer boa pintura e mudar o mundo ao mesmo tempo, enquanto eram mudados pelo mundo, tinham que aprender a ser eles mesmos.
E tudo isso apareceu como pensamento no homem que queria mudar o mundo enquanto via como Samir Lucas fazia suas pinturas em sentido horizontal. E o homem se alegrou enormemente ao dar-se conta que seu novo amigo, que também vivia numa cidade que evitava tocar o mar e tinha duas escolas de arte, trazia-o na memória.
Lucas Di Pascuale
www.lucasdipascuale.com.ar
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Domingo à tarde, voltando da casa de Dona Mus, ouvi o Samir falar sobre a família; ele dizia como as pessoas entravam para sua família. Não é simplesmente por laços sanguíneos, a amizade os torna parentes: os filhos dos amigos se tornam primos de nossos filhos.
Olhando os retratos pintados por Samir, reconheço alguns rostos, amigos em comum, que ali ao mesmo tempo que parecem anônimos, são familiares. Aqueles que não conheço, reconheço em mim, parecem amigos ou parentes distantes. Penso que o Samir está pintando retratos de uma família, a família humana. Acho que mesmo aqueles que não conhecem os personagem dos retratos, se olharem atentamente vão se reconhecer, vão pensar que fazem parte dessa família.
Antes havia pedido ao Samir que pintasse meu retrato diante de Jean Charles _ um conterrâneo que foi morto em Londres por ser confundido com um árabe _ ele disse que pintaria, mas não seria para essa exposição, não combinaria com o tema. Discordo do Samir, o retrato não destoaria nem um pouco ao lado dos retratos de nossos amigos. Não precisamos saber o nome do retratado,o anonimato nos faz parte dessa família.
No mesmo dia tive vontade de pedir ao Samir que pintasse meu retrato junto a Dona Mus _ Musijem Fontaine Ardjowasito, mulher cristã nascida em um país muçulmano [Indonésia], que vive ao lado da família do Samir a pelo menos 40 anos. Também pensei em pedir ao Samir que eternizasse a imagem de minha mãe pintando seu retrato, mas achei que não daria tempo; me contentei em fazer parte dessa família com uma fotografia. Penso que se um dia nos distanciarmos, meus filhos ainda poderão ser primos de seus filhos.
Paulo Nazareth , agosto de 2008
artecontemporanealtda.blogspot.com
Havia um homem que queria mudar o mundo e que vivia numa cidade que evitava tocar o mar. Uma vez, o homem que queria mudar o mundo viajou pra outra cidade que em outro país também evitava tocar o mar.
A cidade em que vivia o homem que queria mudar o mundo tinha duas escolas de arte e o mesmo acontecia na cidade para onde um dia o homem viajou. Aí conheceu artistas dessa cidade que não era a sua. Um deles se chamava Samir Lucas.
O homem que teve a oportunidade de conhecer Samir Lucas havia estudado arte numa das duas escolas de sua cidade, ainda que não tivesse escolhido essa escola; apenas aconteceu que o homem que queria mudar o mundo não sabia que existiam duas escolas de arte e ingressou na mesma em que estudava uma amiga, que por outro lado era quem o havia convencido a estudar arte. Pouco antes de conhecer esta amiga que o havia convencido a estudar arte o homem que queria mudar o mundo não sabia que existiam escolas de arte na cidade em que vivia.
Já dentro da escola de arte, o homem que queria mudar o mundo realizou apaixonadamente suas primeiras pinturas e desenhos e gravuras e esculturas, e imerso nesse trabalho o homem percebeu que desejava se contagiar do trabalho dos seus companheiros. E junto com seus companheiros o homem que queria mudar o mundo descobriu que existiam dois tipos de estudantes de arte em sua escola. Por um lado estavam os pintores e por outro os que, como ele, queriam mudar o mundo. Então, só quando o desejo de mudar o mundo entrava de férias, o homem que queria se contagiar de seus companheiros encontrava tempo para pintar, e o fazia de novo apaixonadamente. Com certeza alguém inteligente inventou essas férias, costumava pensar o homem.
Mudar o mundo tinha regras muito claras naqueles dias, regras que com o tempo davam ao homem que queria mudar o mundo preguiça de lembrar. Talvez as regras são claras porque as colocamos ao sol, também costumava pensar o homem. Mas com o tempo e como era de esperar, o homem e seus companheiros dos quais desejava se contagiar descobriram que era possível e mais fácil e até mais necessário pintar enquanto mudavam o mundo. Assim o homem e seus companheiros também perceberam que eram mudados pelo mundo. Mas o mais importante que descobriram foi que para fazer boa pintura e mudar o mundo ao mesmo tempo, enquanto eram mudados pelo mundo, tinham que aprender a ser eles mesmos.
E tudo isso apareceu como pensamento no homem que queria mudar o mundo enquanto via como Samir Lucas fazia suas pinturas em sentido horizontal. E o homem se alegrou enormemente ao dar-se conta que seu novo amigo, que também vivia numa cidade que evitava tocar o mar e tinha duas escolas de arte, trazia-o na memória.
Lucas Di Pascuale
www.lucasdipascuale.com.ar
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Domingo à tarde, voltando da casa de Dona Mus, ouvi o Samir falar sobre a família; ele dizia como as pessoas entravam para sua família. Não é simplesmente por laços sanguíneos, a amizade os torna parentes: os filhos dos amigos se tornam primos de nossos filhos.
Olhando os retratos pintados por Samir, reconheço alguns rostos, amigos em comum, que ali ao mesmo tempo que parecem anônimos, são familiares. Aqueles que não conheço, reconheço em mim, parecem amigos ou parentes distantes. Penso que o Samir está pintando retratos de uma família, a família humana. Acho que mesmo aqueles que não conhecem os personagem dos retratos, se olharem atentamente vão se reconhecer, vão pensar que fazem parte dessa família.
Antes havia pedido ao Samir que pintasse meu retrato diante de Jean Charles _ um conterrâneo que foi morto em Londres por ser confundido com um árabe _ ele disse que pintaria, mas não seria para essa exposição, não combinaria com o tema. Discordo do Samir, o retrato não destoaria nem um pouco ao lado dos retratos de nossos amigos. Não precisamos saber o nome do retratado,o anonimato nos faz parte dessa família.
No mesmo dia tive vontade de pedir ao Samir que pintasse meu retrato junto a Dona Mus _ Musijem Fontaine Ardjowasito, mulher cristã nascida em um país muçulmano [Indonésia], que vive ao lado da família do Samir a pelo menos 40 anos. Também pensei em pedir ao Samir que eternizasse a imagem de minha mãe pintando seu retrato, mas achei que não daria tempo; me contentei em fazer parte dessa família com uma fotografia. Penso que se um dia nos distanciarmos, meus filhos ainda poderão ser primos de seus filhos.
Paulo Nazareth , agosto de 2008
artecontemporanealtda.blogspot.com
quarta-feira, 4 de junho de 2008
Descrições
Exposição na Galeria do BDMG, Belo Horizonte. 2007
Melhor que retratar era descrever as coisas. Começei com cinco amigos, um super-homem, um batman, um par de tênis, e uma jaqueta.
quarta-feira, 2 de abril de 2008
Meu pé apertou todos os dedos contra a palmilha do tênis. Foi quando subia uma rua pela calçada enquanto uma montaria da PM a descia. Capacete, revólver, porrete, homem, rádio, tudo lá em cima. O cavalo, o coitado, com um ferro incomodando sua língua, mostrava parte da córnea branca de louco ou nervoso. Negociava em desvantagem o ritmo que deveria descer a rua contra a calma leviandade das mãos que puxavam as rédeas. O cavalo passava pela simples tortura de descer uma rua, porque torcer uma perna é perder a vida. O leitor, em dia chuvoso, por acaso, já teve seus sapatos deslizando sobre pavimento de ardósia ou tampa de metal? Teve medo de cair, escorregou mas não caiu. Quando a ferradura cravada no casco do cavalo deslizou pelo frio asfalto, fez um barulho de areia sobre porcelana em meus ouvidos, foi aí que meus dedos sem nomes apertaram as palmilhas dos meus tênis.
Existem coisas muito pequeninas chamadas átomos. Átomos e outras coisinhas igualmente pequenininhas se juntam e formam coisas que podemos ver, como uma árvore, uma cidade, um computador e uma pessoa. Na tarde de algum dia, uma chuva de fótons veio banhar meu corpo, meu rosto, e este conjunto de massa parecida com minha mãe e meu pai deu uma idéia pro Samir pintar um quadro.
O cavalo movia-se impelido pelo peso seu e do policial nas costas sobre uma superfície lisa, mas tendo a ferradura, e não o próprio casco, em contato com o chão. Os cavalos, não sentem dor quando são ferrados, ouvi que o casco não possui terminações nervosas. Moi, je m’en fou do quadrúpede, o incrível para mim é que compartilhei instintivamente o desespero da situação. Também não sinto meus sapatos, mas senti a falta de aderência entre o ferro e o asfalto através de meus dedos e a ponta da frente da sola. Não era eu quem realmente caia naquela tarde, mas eu fui aquele que também quase caiu. Onde começamos é também onde terminamos, quando esse onde é fora da gente, é o que mais me interessa.
O Samir fez o quadro, e já vários, pediu um texto. Um texto que causa fosse mais que encher um pedaço branco de papel. Do pouco que escrevi espero que não falte.
Ariel Ferreira Costa
Existem coisas muito pequeninas chamadas átomos. Átomos e outras coisinhas igualmente pequenininhas se juntam e formam coisas que podemos ver, como uma árvore, uma cidade, um computador e uma pessoa. Na tarde de algum dia, uma chuva de fótons veio banhar meu corpo, meu rosto, e este conjunto de massa parecida com minha mãe e meu pai deu uma idéia pro Samir pintar um quadro.
O cavalo movia-se impelido pelo peso seu e do policial nas costas sobre uma superfície lisa, mas tendo a ferradura, e não o próprio casco, em contato com o chão. Os cavalos, não sentem dor quando são ferrados, ouvi que o casco não possui terminações nervosas. Moi, je m’en fou do quadrúpede, o incrível para mim é que compartilhei instintivamente o desespero da situação. Também não sinto meus sapatos, mas senti a falta de aderência entre o ferro e o asfalto através de meus dedos e a ponta da frente da sola. Não era eu quem realmente caia naquela tarde, mas eu fui aquele que também quase caiu. Onde começamos é também onde terminamos, quando esse onde é fora da gente, é o que mais me interessa.
O Samir fez o quadro, e já vários, pediu um texto. Um texto que causa fosse mais que encher um pedaço branco de papel. Do pouco que escrevi espero que não falte.
Ariel Ferreira Costa
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